Textos
VELHICE x CRIAÇA ?
Sou o mais novo de uma família de seis filhos, onde sou único homem, e por parte de meu pai o único neto e sobrinho.
Sempre fomos orientados em nossa casa por minha mãe e meu pai que tínhamos que respeitar os mais velhos, e não só isso, se possível ajuda-los no que pudéssemos, claro que não estamos falando somente em finanças. Começando por cumprimentar as visitas “o senhor, a senhora” e aos hábitos diários e rotineiros como: “mãe posso ir?” “já cheguei!” ao sair de casa ou chegando “à benção” sempre pedindo para eles nos abençoar, isso era extensivo aos tios e avós também.
Minha experiencia “com a velhice “começa pela necessidade de fazer companhia a minha avó materna, (Clara) do que ficara sozinha as tardes pois, minhas tinhas (3 tias) precisavam trabalhar e ficava só com meu avô (Joaquim) ambos de idade bastante avançada não poderiam ficar sozinhos, e eu o mais novo muitas vezes tinha essa missão de passar a tarde inteira com eles, eu tinha uns 10 ou 12 anos.
Com o passar dos anos sempre fiquei, mas próximo deles e fui assumindo certas responsabilidades: receber os proventos do meu avô, fazer os pagamentos, comprar medicamentos, fazer depósitos ... depois minhas tias sentiram o peso da idade e também passam as mesmas atribuições a mim e mais, passaram procurações com totais poderes para resolver tudo para elas de tal forma que eu e minha irmã Emília resolvíamos tudo delas.
A família do meu pai: Figueiredo, Linhares e Aragão são bastante longevas, visto que, meu avô partiu aos 99 anos, minha avó aos 97 e seus filhos com uma média acima dos 85 anos, com exceção do meu pai que partiu aos 77 anos.
Além dessa experiencia famílias tive outros convívios com pessoas de terceira idade: meu sogro, minha sogra e um grande e estimado amigo centenário Alberto, centenário é só para insulta-lo kkkk
Fiz essa contextualização pois irei fazer algumas analogias entre a velhice x criança e de como vejo e espero a minha velhice chegando, e hoje aos meus 53 anos tenho alguns conflitos sobre o assunto, sobre o futuro que me espera e sinceramente não me vejo passar por essas etapas antagônicas da vida, pois muitas coisas em check nessa hora, religião, família, o criador em resumo “TUDO” .
Acompanhei ativamente na criação dos meus filhos em todas as fases juntamente com a mãe deles é claro a Dra. Mary Figueiredo e acompanhei minhas irmãs criarem meus sobrinhos. Diante dessa experiência posso opinar.
IDOSO X CRIANÇA - SEM COMPARAR, apenas um paralelo
Saúde: verifico que são muito similares, frágeis, necessitam de ação rápida e agravam no piscar de olhos;
Mobilidade: ambos necessitam de auxilio para manter o equilíbrio, seja com equipamentos: bengala, andador, suporte ou mesma a mão segura mais próxima.
Higiene: você estará na mesma situação do recém-nascido, precisando de alguém para te auxiliar ou mesma fazer a higiene pessoal e limpeza das necessidades fisiológicas.
Ingenuidade: essa não é genérica, apenas para uma parte dos idosos, pois da mesma maneira que o pai promete trazer um “avião” se ele comer o idoso também acredita se ele falar a senha do cartão ele terá nova concessão de empréstimo com taxas bem baixa, pois o presidente X autorizou.
Memoria: perceba que em ambas situações a memória muitas vezes é volátil, o idoso adormece e quando acorda, repete a mesma coisa ou já não lembra que almoçou a pouco.
Medo: esse é também é muito similar, a criança tem medo do palhaço que o alegra e o idoso as vezes tem medo de dormir, de perder o acompanhante, o lençol ...
Dependência: talvez essa seja a mais fácil de ser identificada por todos, pois pode ser traduzida de diversas formas: dependência financeira, dependência de locomoção, dependência para realizar os mais básicos atos de higiene ou até para realizar suas vontades de prazer, sair, passear, viajar, fazer compras...
E o pior de tudo a demência, todas essas fases são árduas e difíceis de serem ultrapassadas, a fase da demência na minha opinião não há comparação, tipo a oportunidade de verificar em alguns idosos, mas vou relatar apenas poucos exemplo:
Presenciei meu avô aos 99 anos, que detestava comidas assadas, torradas desejar comer uma suculenta carne assada na brasa e querer comprar na então casa Pio uma sapatilha igual a minha, ou ainda em plena 14h querer passear na praça do Ferreira, e assim o obedeci !
Ver sua mãe, uma referência em seriedade, em lucidez dialogar com a televisão, com apresentadores de programas de auditório? Vê-la repetir a mesma história algumas dezenas de vezes? Ou mesmo você tendo indo visita-la a 2 dias, ouvi-la dizer: “você esqueceu que tem mãe? faz dias que não vem me ver?
Poderia relatar mais algumas, mas ficaria chato e cansativo. Quero apenas levar uma reflexão sobre envelhecer, como envelhecer e se envelhecer kkkkk
Mas já me tomo por uma preocupação com o futuro próximo, como toda a correria da modernidade, as “facilidades” que a tecnologia nos trouxe, percebo que perdemos um pouco de preocupação com os mais velhos, com a família e com o nosso futuro que logo, logo chegará, se chegará será uma dádiva? Reflita e tire suas conclusões sobre a velhice, será mesmo A MELHOR IDADE? !!!!!!
Milton Figueiredo
24.10.2021
Trezentos e sessenta e cinco dias ...
Aprendi com sua partida que o tempo é relativo, alias a noção que temos dele é que é relativo. Lembro com riqueza de detalhes as noites que precederam sua partida ou a viagem com queiram chamar. Sinto o coração bater mais forte e minha respiração mais ofegante nas noites de 01 á 03/10/2005, pois sentia que Deus iria usurpar você Deusa, do nosso convívio, e ainda hoje acordo muitas vezes pensando que vou te encontrar para combinar os jantares/almoços para comemorar alguma data importante para nós ou mesmo para pedir alguma informação para proceder junto a Regional II ou SAM.
Se Deus me desse à oportunidade de falar como você, ti diria que não te esquecemos e que jamais te esqueceremos, pois você continua fazendo parte de nossa família, que agora ainda menor com a partida do nosso Pai, que com certeza está ao seu lado tomando conta de você com lhe era peculiar.
Não Sei se estamos passando uma temporada deste planeta / dimensão, ou se iremos nos encontrar em um futuro, se você percebe ou sente nossos sentimentos tristes com sua ausência, a única coisa que posso afirmar ou tentar descrever é sua falta, sua companhia sempre solidária com todos que te cercavam e em todos os momentos.
Conforta-nos é saber que você está em um bom lugar, ao lado dos bons e dos justos.
Milton Figueiredo
Minha mãe
Cresci vendo minha mãe fazer caridade, esperava as sextas feiras para entregar sacola com alimentos aos velhinhos, só aos velhinhos em nossa porta e partilhava o almoço com qualquer pessoa que estivesse em nossa casa, parente ou não, tinha que almoçar, bem como, entregar centenas de pães na igreja de Santo Antônio no bairro do Otávio Bonfim e não poderia faltar a visita a colônia Antônio Diogo para entregar medicamentos para os enfermos de hanseníases.
Mãe protetora, cuidadora que tomava as dores por qualquer um dos seus seis filhos, até “se trocava” com outros meninos para nos defender, nos empanturrava de alimentos, para ela saúde era filho gordo !
Quem conheceu D. Teresinha, com certeza foi apresentado ao sentimento de partilha e generosidade.
Longe de mim afirmar que ela não tinha defeito, claro que tinha, como qualquer um de nós aqui presente, mas sua lealdade e as caridades sempre se sobressaíram durante sua permanência aqui na terra.
Mulher de fé, sempre nos incentivou a acreditar em um ser superior e praticar alguma religião. Mesmo sem muito letramento sempre fazia questão de ler a vida dos santos e assistir filmes que tratassem do assunto.
em 2005 teve a maior perda da sua vida, o falecimento prematuro de uma de suas filhas mais velhas e se não bastasse, sete meses após perdeu seu marido “ Milton”, mas com muita fé em Deus seguiu, mas sempre falava que não era a mesma, faltava um pedaço dela.
Veio o avançar da idade, o Alzheimer, a mudança de comportamento, o esquecimento, mas sempre junto dos filhos. Sua fé era inabalável ! para ela esse maldito virus não era pareo para ela, mas no fundo, no fundo tinha medo. na semana que antecedeu sua partida, eu e minha irmã Fatima estavamos no hospital e eu para “ convece-la “ a ficar no leito tive que falar “ Mãe, a senhora está com a Covid e ela com os olhos bem abertos disse: Fátima é verdade o que seu irmão diz? e essa foi a ultima vez que troquei palavras com minha mãe !
as outras vezes apenas a via, falava e ela não mais respondia, estava em coma e entubada !
D. Teresinha, você foi e é exemplo de vida, para toda nossa família
Sonhador
José Milton de Figueiredo foi um “sonhador”. Sonhador no sentido de almejar o bem e fortuna para si e prioritariamente para os que o cercava.
Quem não lembra ou lembrará de suas brincadeiras com os jogos da CEF: Super XCap, loto, mega-sena, etc.
Quem não lembrará daquela pergunta sempre em tom de brincadeira:
...e ai recebeu?
Não esquecia de nenhum de seus familiares e de seus amigos próximos. Até por que, sua memória era maravilhosa, fantástica relatava fatos ocorridos há décadas como se fosso no mês passado, não só das pessoas, datas, curiosidades, mas das famílias entre si e principalmente dos fatos políticos da época.
Generoso acima de tudo, brigávamos muitas vezes por sua “ingenuidade” no sentido de não desconfiar da maldade das pessoas de hoje, deixava ou tentava que qualquer pedinte entrasse em sua residência para lanchar ou oferecer aquele “queijo que o vaqueiro acabara de trazer” por quantas vezes decidia por dar o pouco dinheiro que lhe restara aos que pediam seu auxílio.
Homens de fé, nunca, nunca mesmo o viram perder a esperança no Senhor Deus, sempre fazendo suas orações, diuturnamente incansável, suas promessas aos santos de suas devoções que eram muitos: Nossa Senhora, Santo Expedito, Santo Antonio, São Judas Tadeu, Santa Edwirgem, São Francisco o qual não perdia uma missa todo dia quatro de cada mês, dia em que perdera sua filha e de seu sepultamento.
Alegria era sua marca registrada, às vezes até demasiadamente, onde eu mesmo o retrucava, todavia nesses últimos sete meses a perda de sua filha Maria Deusa o tenha abatido bastante.
Adorava crianças e as crianças também o adoravam, quem não lembra dele com os netos no braço andando pelos quarteirões em volta de sua residência, sobretudo os primeiros netos. Era ele quem dava o primeiro lápis e caderno e os ensinavam como apoiar o lápis pegando na mão para que eles aprendessem a rabiscar, pintar, fazer máscaras e desenhos.
Não admitia a possibilidade de pedir ajuda para si apoiar, locomover em suas poucas saídas a uma casa loteria, ir ao seu médico, ou ir ao barbeiro, isso lhe trazia um enorme desconforto, nesses momentos sempre era quebrado o gelo com uma brincadeira do tipo: calmo Zezinho, o que é isso Topetinho ou ainda Lulinha.
Há exatos sete meses fiz uma reflexão aqui neste mesmo local por ocasião da missa de sétimo dia de minha irmã Deusa sobre a morte, partida, despedida o como queiram chamar e parece que o mistério da Morte é mesmo indecifrável, incompreensível sem nexo com meu entendimento, pois agora mesmo foi que fiquei sem entender nada, uma hora o Senhor Deus nos tira de forma brusca minha irmã, pessoa de pouca idade, boa, amiga e companheira e agora nos fisga repentinamente meu Pai em um intervalo de tempo tão pequeno. Por quê? Por quê? Por quê? É só o vem em minha mente...
Sei que todos nós temos nossa hora de partir, de voltar ao lar eterno. Perdão meu Deus, mas precisava ser tão rápido?
Dois entes tão queridos levados por vós?
Seja feita a Vossa vontade!
Milton Figueiredo